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"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

Cecília Meireles

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A CASA DA VOVÓ PRETINHA

A CASA DA VOVÓ PRETINHA

Eu sonhava com o final de semana, porque sabia que era o dia de ir para a casa da vovó. Lá sempre tinha um delicioso cheirinho adocicado de maçã com canela e tortas. Tudo era permitido: andar descalço, tomar banho frio de mangueira, correr pelo gramado, fazer bolinhos de barro e o melhor de tudo; jogar bola na rua com a molecada.

Ela vivia em uma casa pequenina, toda azul com janelas brancas, era a última casa de uma rua muito arborizada, com vários pés de ipês roxos; onde as casa eram separadas uma das outras por pequenas cercas. Tinha um grande gramado na frente bem verdinho e vários tuchos de Hortência em volta da cerca branca. A rua era bem estreita, não tinha asfalto ainda, era de barro batido e pedrinhas redondas, de um lado tinha as casinhas e do outro, muita vegetação que chamávamos de Chácara dos Padres, mas na verdade era uma fazenda de pesquisa do governo.

Quando o carro parava na frente do portão de sua casa, ela já estava nos esperando, como se adivinhasse o exato momento da nossa chegada. Sorria-nos com todo o corpo. Seus lábios grossos estavam sempre risonhos e quando sorria seus olhos grandes e pretos se fechavam... Eu achava muito lindo. Tinha os cabelos bem branquinhos como flocos de algodão, contrastavam com a sua pele bem escura. Vestia sempre um avental florido, porque estava constantemente cuidando de seus canteiros. Ela olhava-me sorrindo, estendia os braços compridos e acolhedores, eu corria e me jogava em seu colo macio, onde era recebido com muito carinho. Sentia o cheiro de seus cabelos, de seu rosto e de sua pele. Eu deitava e minha cabeça em seu ombro e apertava com toda a minha força, nada nem ninguém e tirava dali. Era um momento só nosso.

A mesa do lanche da tarde estava pronta, ela colocava os sucos, o pão quentinho o bolo de fubá com goiabada e o pão de queijo que era o meu preferido. Na casa da minha vovó não tinha refrigerantes, mas tinha cada suco! Na geladeira tinha umas garrafas coloridas com vários tipos de sucos. Eu me deliciava com todos aqueles sabores, um dia cheguei a tomar tanto, que até fiquei com dor de barriga. Lá sempre tinha biscoitos, bolos e doces, ela fazia cada bolo! A casa inteira ficava cheirando a tortas, que delícia! Eu já era meio gordinho, e no final de semana com certeza meu peso aumentava mais.

-Que cheiro bom! Eu dizia com o meu olhar de guloso.

Meu quarto que fora do meu pai, estava sempre arrumado e cheiroso. Meus amigos tinham mais ou menos a minha idade, viviam correndo de calção pelas ruas, atrás das pipas e dos cachorros, logo que meus pais partiam, eu tirava o tênis, aí sim eu também era um menino de rua.

Minha avó era uma professora aposentada que adorava crianças, por isso sua casa estava sempre cheia, toda tarde ela fazia a mesa do café e todos que a conheciam sabiam que era à hora de se deliciar com suas tortas, bolos, geléias , compotas e sucos. Nós comíamos, ríamos, brincávamos, éramos felizes. Regina Gois

2 comentários:

  1. Oi querida.. sempre inspirada ao escrver heim... gostei... me deu saudade da minha avó, pena que ela já foi morar com Deus.. mas era uma fofura tb amava criança e queria nos agradar com abraços e comilanças..rsrs..

    Abraços para vc..
    Ellen Moraes
    www.arteverartesanatoecia.blogspot.com

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  2. infancia de nossos tempos é tão saudável e memorável até vc me fez viajar pelo tempo parabéns tbm por teu estilo
    Athadar

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