Quem sou eu





Crie glitters aqui!

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

Cecília Meireles

terça-feira, 28 de junho de 2011

NOSSA AVENTURA NO PARAGUAI - Relato de Ivany Mello



Encontrei-me com a Rê na Barra Funda faltando 40 minutos para o embarque. Ela trouxe uns lanches maravilhosos e ficamos comendo e papeando. Quando faltava 15 min pro embarque, saímos correndo, atravessando a massa humana. Demoramos 15 min para chegar no ônibus, fomos as últimas a embarcar as malas, rsrs...Bem, para resumir, o a viagem durou 15 horas, tive dores terríveis na perna, passei fome, chegamos em Dourados podres. Deixamos as malas, tomei um banho gostoso na Renatiiiinha e fomos almoçar num supermercado que tem na esquina do condomínio. Depois, tiramos um cochilo e saímos à noite para o Shopping, onde ficamos o tempo todo numa só loja, de calçados, uma loja maravilhosa, vocês iriam amar. Comprei uns sapatiiinhos baratiiiinhos... Voltamos prá casa, a Jaque (amiga da Renata, uma fofa) fez um macarrão de forno delicioso, jantamos e dormimos. Dia seguinte (6ª F) acordamos bem cedo (6:30) e fomos ao lugar marcado para pegar o carro alugado. Chegando lá, eles nem tinham aberto a agência ainda, a Rê ligou no celular do cara, ele disse que estava vindo, e nisso ficamos uma hora esperando. Veio o cara, depois de muito vai-não-vai, deu-nos um Uno no lugar de um Palio ou Gol que a Rê tinha visto pela Internet. Pegamos o Uno e fumu... eu estava sem minha habilitação (não sabia que a gente iria alugar carro), então a Rê foi dirigindo, imaginem só a “aventura” na estrada, rsrs... (desculpa aê, Rê). Após uma hora e meia chegamos no Paraguay. Gentem, nem dá prá contar, que maravilha de Shopping, fiquei deslumbrada, nunca vi tanto perfume, cremes, maquiagem, cosméticos, eletrônicos, roupas de grife, enfim, tudo o que vocês podem imaginar de importados do bom e do melhor num só lugar. TODOS os perfumes tinham frasco demonstrativo, então, a gente espirrava no corpo todo, nem sei como não fiquei com dor de cabeça de tanto “cheirar”, rsrs... Almoçamos no Shopping mesmo, e fomos pegar o carro, para ir para outro Shopping (comparar preços). O carro não pegou, nem deu sinal de vida, ficamos uma meia hora tentando. Um cara de um centro automotivo lá do Shopping nos ajudou (levantou o capô e deu uma “apertadinha” no parafuso do cabo de bateria), estava frouxo, que raiva!!! Aí o carro pegou e lá fumus nós atrás de mais muamba. Bem, lá na fronteira, é uma maloca só, barracas em cima da calçada, como se fossem bancas de jornal uma colada na outra, em todas as calçadas, virando quarteirões, e ainda cobertas, ligando as bancas às lojas. Você passa no meio disso tudo como se fosse um túnel, com aquela paraguaiada  prestativa oferecendo mircaduria. E o povo comprando. Eu entrava em tudo que era loja prá procurar o perfume da Vania, pois o limite que ela me deu, só deu para comprar o de 30 ml,ahahahahahah, pois é um perfume caro, e nem toda loja tinha o de 30. Bem, quando chegou por volta das 6 da tarde, percebemos que ainda tinha muita coisa prá ver, então resolvemos pousar na cidade, fomos à cata de hotel. Começamos pelos que tinha uma cara decente, mas o preço... só por uma noite estava muito caro, então fomos descendo o nível, aí eu falei prá Rê: “Olha, tem que ser um lugar que só tenha uma placa escrita: Hotel. Ponto, sem florzinha, sem nome de hotel, sem hall de entrada, sem nada. Achamos uma espelunca, ahahahhaahahhah, imaginem uma espelunca no verdadeiro sentido da palavra, com gente lavando roupa prá todo canto, ninando criança, um conversê, um pero que si, pero que no que não acabava mais. Mas, tinha chuveiro, então, tudo bem. Ah, e o carro ficava estacionado bem em frente, então a gente tinha um local base. Dormimos, no sábado pela manhã deixamos a Renatinha dormindo e lá fomos eu e a Rê às compras. Voltamos umas onze, pegamos a Rê, continuamos as compras, almoçamos num mercado, também, do lado do Brasil, comida por quilo. Lá faz muita névoa, de manhã, você anda no meio de uma garoa, mas não uma garoa que cai, uma garoa que fica no ar, e você passando no meio dela, o cabelo fica todo molhado. É muito estranho. Bem, depois do almoço, continuamos nossas andanças pela maloca das barracas, eu procurando o perfume da Vânia, a Rê brigando com um libanês (essa é uma história à parte, só contando pessoalmente), depois, fizemos amizade com OUTRO libanês (que também é uma história à parte), esse valeu a viagem... ai, ai... bem, gasp, continuando...voltamos ao Shopping China (o deslumbrante, fiquei mais uma meia hora “cheirando” (gente, vocês não tem noção, imaginem todos os perfumes que vocês podem imaginar, com provador). E os preços? Nossa, muito barato, dá vontade de trazer um de cada. Fui na parte de guloseimas, só comprei coisas diferentes para os meninos: chicletes, balas, bombons, chocolate, marshmellow, etc. Bem, o dinheiro acabou. Para tomar o último cafezinho para vir embora, tivemos que ficar juntando moedinhas, mas ainda deu para comer um pão de queijo cada uma e tomar um cappuccino, ahahahahahahahah. Bem, já era de noite, e a tarr névoa... não se enxergava um palmo na frente do nariz. A Rê falou: “eu não dirijo”, aí eu tive que pegar o carro, sem habilitação mesmo. Quando começou a estrada, a estrada sumiu na neblina, não dava prá enxergar nem o olho de gato do asfalto. Então, na hora, apareceu um luminoso, era um Motel. Virei prá direita “pisando” em ovos, procurando a entrada do Motel. Não aceitava cartão e a gente não tinha dinheiro. Bem, perguntei pro cara: Como saio daqui? Ele disse: Dá ré, kkkkkkkkkkkkkk, como ré, se eu não enxergava nada? Pedi prá ele abrir o portão para eu dar a volta, ele abriu e fui indo devagarinho procurando algo parecido com uma saída. Fui indo, indo, eis que senão quando, não mais que de repente, o que aparece bem na minha frente, o quê, o quê?? Uma PISCINA!! Quase caímos na piscina, kkkkkkkkkkk, Saí do carro, procurei o caminho de volta, achei... Consegui chegar na estrada novamente e ficamos à espera de passar um carro para eu seguir as luzinhas. Passou um carro, engatei uma primeira e saí a toda atrás dele (pois ele já vinha embalado, então imaginem, um Uno saindo em primeira marcha para alcançar um carro na auto estrada). Mas, eu não poderia perdê-lo de vista, pois era a única guia, a lanterna do carro. Bem, depois de uma meia hora a névoa foi se dissipando (depois falaram que essa névoa é muito comum, só dá na fronteira) e fomos chegando em casa. Só que a gasolina foi acabando, o ponteiro baixando, baixando, e eu falando prá Renata: Rê, tá perto? Tá, tia, tá chegando, e roda, roda, e o ponteiro baixando, e eu perguntando? Rêêê, não chega??? E ela naquela calma... tá chegando, tia. Bem, chegou, Ufa, o carro foi até o estacionamento. No dia seguinte, quando o cara da agência foi buscar o carro, ele não pegava mais, pois estava sem gasolina, kkkkkkkkkk, bem problema deles, pois também entregaram o carro prá gente com o tanque vazio. Bem, depois de devolver o carro (a devolução do carro é uma história à parte, a Rê e os shows dela, só Jesus...) fomos ao mercado, compramos coisas para o almoço e a Regina fez o almoço. Arrumamos as malas e fomos prá rodoviária (o embarque de lá para cá é outra história à parte, a Rê e suas subidas nas tamancas – mas, nesse caso, eu tirei o chapéu prá ela, eu disse que esse fato anulava toda a vergonha que ela me fez passar, ahahahahahahah. Bem, depois de 16 horas e meia chegamos em casa, com uma costela com mandioca, arroz soltinho, feijão fresquinho nos esperando.
  Relato de:  Ivany Mello

sexta-feira, 17 de junho de 2011

QUEM PAGA A CONTA?



Colocamos uma venda para não ver,
tanta roubalheira, tanta corrupção
sem nenhuma punição.

Enquanto lá em cima
as varejeiras vivem muito bem,
nós aqui pagamos a conta como convém.

E fazemos de conta
que aqui também se vive bem.
Nos enganamos sem saber
e pagamos as contas sem querer.

Que é que esse povo tem,
que assim se deixa enganar
e mais e mais empobrecer?

é medo de enlouquecer ou
de ser mais um
em uma cova comum?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SIMPATIA PARA CASAR

                       
Naquela manhã ela pulou da cama mais decidida do que nunca, pegou uma roupa no armário, vestiu-se e saiu às pressas. Foi atrás de Madame Margot, a cigana que uma amiga lhe indicara; que sabia prever o futuro, lia as mãos e ensinava simpatias.
Jamais em sua vida pensou em ir a um lugar daqueles, pedir ajuda para casar. “Onde já se viu”?
Sempre teve muitos rapazes aos seus pés; quando passava nas ruas sentia os olhares dos homens em sua direção, mas ela nem ligava, ignorava todos. Não aceitava nenhum dos muitos pedidos de namoro.  Ela queria um bom partido, alguém que a levasse para fora daquela cidade pequena, cheia de morros e ladeiras. Queria um homem que morasse na cidade grande, que não fosse como os caipiras, seus conterrâneos. Esse homem não apareceu, a idade foi avançando. E agora ninguém olhava mais para ela, nenhum pedido, nenhum simples olhar. Então o jeito era apelar para ajuda. E assim, lá estava ela de chapéu e óculos escuros, não queria que ninguém a reconhecesse.
Logo que entrou na casa da cigana, uma coisa chamou sua atenção. Uma das paredes da sala estava forrada de fotos de casais sorridentes. Abaixo das fotos, as datas dos casamentos; em outra parede, havia um grande cartaz que dizia assim: Ensinamos simpatias para: arrumar casamento, ter filhos, tirar calos, curar bronquite, deixar a mulher mais fogosa, segurar marido, apressar o casamento, passar no vestibular, arrumar um bom emprego, ganhar na loteria e outras.
A cigana tomou-lhe a mão antes que ela abrisse a boca, correu os dedos compridos e magros sobre as linhas de sua mão e disse:
Estás querendo um marido, não é, minha filha?
_Sim! Respondeu ela num tom baixo
_Não se preocupe, eu estou aqui somente para atender pedidos assim. Já arranjei tantos casamentos que você nem pode imaginar. Ali naquela parede tem apenas algumas fotos, até mulheres com mais de 60 anos já desencalharam depois que vieram aqui e fizeram exatamente o que eu mandei.
_E dá certo mesmo? Perguntou Belinha, incrédula.
_Claro que sim, por essa Luz que me ilumina. Aqui tudo é sério, mas depende da pessoa que vem aqui. É preciso acreditar e fazer direitinho o que eu mandar. Entendeu...?
Depois de acertado o valor da consulta a cigana ensinou-lhe uma simpatia infalível:
_Preste muita atenção! Tudo deve ser feito do jeito que eu lhe disser, entende? Você deve ir, ainda hoje que é véspera de Santo Antônio, lá na igreja, pegue a imagem do Santo Antônio; aquele que tem o menino Jesus no colo.
_Como assim... Pegar o Santo Antônio, da Igreja? Isso não é furto?
_Deixe-me terminar de falar!   Você quer casar ou não quer?
_Quero...! Mas não quero ser presa por roubar Santo.
_Ninguém falou em roubar a imagem. Você vai pegar a imagem do Santo emprestada. Entendeu? Emprestada!
Compre um copo de vidro novinho, virgem. Depois consiga leite de peito para colocar dentro do copo. Tire o menino do colo do Santo e mergulhe o Santo Antônio de ponta cabeça dizendo: “Santo Antônio, só vou devolver-lhe o menino e tirá-lo daí quando o senhor me arrumar um casamento”. O Menino Jesus você guarda em seu quarto, o copo com o Santo você devolve para a Igreja e deixa exatamente onde estava.
­_Tudo bem. Quer dizer, que se eu fizer o que você está falando direitinho eu consigo um marido?
_E tem mais, se você quiser um marido rico e bonito, precisa fazer também outro trabalho, mas esse eu não vou cobrar, vou fazer como cortesia, basta apenas que você traga-me uma galinha caipira bem gorda, aquelas amarelinhas da coxa grossa. Entendeu?  Caipira e bem gordinha, quanto mais gorda a galinha, mais dinheiro terá o seu marido.   
_ Olha, eu não faço mais questão de marido rico, o que me importa é não ficar solteira.
_Mas nunca é ruim ter um pouco de dinheiro, não é? Hoje é quarta-feira, traga-me a galinha gorda até sexta-feira. Agora vá e boa sorte!
Belinha saiu da casa da cigana pensando: “O santo Antônio era fácil, pois era só passar na igreja na hora em que ela estivesse vazia, mas a galinha caipira não seria fácil, ninguém mais criava galinhas, mesmo em cidade pequena”. Saiu pela cidade procurando  por galinhas caipira. Todos diziam que para achar galinhas assim, só indo procurar nos sítios, fora da cidade. Deixou então a galinha para o dia seguinte. Ia se preocupar agora em pegar o Santo Antônio. Foi à igreja, que ficava lá no topo da colina, sentou-se perto da imagem e pôs-se a observá-la. Fez suas rezas, depois olhou para um lado, para outro...como não viu ninguém, pegou a  imagem, olhou se o menino estava solto; colocou a imagem na bolsa e saiu rapidamente, precisava descer até sua casa, que ficava na parte baixa da cidade.
Já tinha anoitecido, era uma daquelas noites frias de Junho, véspera do Dia de Santo Antônio. Em algumas casas já tinha fogueira, pessoas conversavam no quintal, comendo milho cozido, pipoca, batata doce assada e tomando quentão. Dava para sentir no ar o cheiro de gengibre com canela. Bem que ela gostaria de parar para conversar um pouco com os conhecidos, mas estava ansiosa para chegar em casa e fazer a simpatia.
Ao chegar em casa, pegou um copo de vidro no armário, abriu a geladeira pegou uma caixa de leite e encheu o copo. Pensou: “coitado do Santinho, o leite está tão gelado, vou morná-lo.” Colocou o leite em uma caneca e levou-o ao fogo. Enquanto isso sua mãe apareceu na cozinha.
_Vai tomar leite, filha?
_Não, mãe, é uma simpatia.
Antônio no copo de leite de peito?
_Sim, é essa!  A senhora já conhecia?
_Claro que sim, mas...
_Mas o quê, mãe?
_Na minha receita o leite precisa ser de peito. 
_ É mania desse povo, dizer leite de peito. Leite é sempre de peito, ou não é? Leite de peito! Leite é leite, não é mãe?
Pegou o santinho, tirou o menino do seu colo com cuidado e deu para a mãe segurar, enfiou o Santo Antônio dentro do copo de cabeça para baixo.  E fez o pedido olhando para o copo.
_ Santo Antônio, eu só vou tirá-lo daí e devolver o seu menino quando o senhor me arrumar um casamento.
Subiu novamente a ladeira e entrou na igreja onde deixou o santinho no mesmo lugar que estava. Voltou para casa onde, pegou carinhosamente o menino Jesus e colocou-o dentro de uma caixinha no seu criado mudo.
No dia seguinte toda a família acordou com barulho do toque da campainha.       Sua mãe, muito devota, ficou toda feliz com a visita do Padre. Chamou-o para dentro de casa e ofereceu-lhe café. O padre porém, disse que queria falar com Belinha em particular.
Logo que ficaram a sós ele falou: _Belinha, minha filha, você sabe por que eu estou aqui, não sabe? Tive que lavar o Santo Antônio hoje cedo. _Eu não posso aceitar esse tipo de coisa em minha igreja! – perguntou olhando para ela com seriedade. _Cadê o Menino Jesus?
_Como foi que o senhor soube que era eu?
_Toda a cidade já sabe, minha filha. Tem cinco anos que você faz a mesma coisa no mês de junho, você acha que eu me esqueci o que você fez no ano passado? Eu encontrei o Santo Antônio de cabeça para baixo todo amarrado de fita vermelha. No outro ano você enfeitou o altar do santo com velinhas vermelhas. Até aí eu aguentei, mas tirar o santinho da Igreja, não. Isso eu não posso aceitar.
_Ah, então é isso, o senhor está desmanchando minhas simpatias? Por isso que estou sem casar até hoje! _Ah, Padre. Deixe-me com o menino, somente por um mês.
_Nada disso, devolva-me o menino, ou eu vou tomar outras providências.
Ela devolveu o menino contra sua vontade. Agora sabia por que as simpatias não davam certo. Mesmo assim resolveu sair em busca da galinha. Foi em um sítio bem distante que ela conseguiu a galinha Caipira; pelo menos uma parte da simpatia ela teria de fazer.
Voltou para casa com o pobre bicho com os pés amarrados em baixo dos seus braços e cansada de tanto subir e descer ladeiras e correr para pegar a galinha. Soltou a galinha no quintal, e ficou olhando enquanto o bichinho assustado andava e ciscava. Belinha deu-lhe água, fagulhas de pão e afagou-lhe a cabeça. Quando o sol se pôs, ela percebeu que a galinha ficou inquieta, andando de um lado para outro, depois entrou em casa, subiu no sofá e ficou quietinha olhando para a televisão. “Que bichinho esperto”, pensou Belinha, sabendo que logo teria de levá-la para a cigana.
Quando Belinha chegou à casa da cigana, foi recebida com um radiante sorriso. A mulher arregalou os olhos e imediatamente pegou a galinha das mãos de Belinha.
Foi então que Belinha perguntou:_ A senhora vai sacrificá-la, mesmo?
_Claro, minha filha é preciso fazer o ritual direito, você quer ou não um marido?- disse isso enquanto apalpava o peito e as coxas da galinha.
Belinha não pensou duas vezes, mais que depressa pegou a galinha da mão da Cigana e saiu correndo, enquanto a mulher pedia pela devolução da galinha, gritando e rogando pragas.
_Belinha voltou para casa ofegante, mas satisfeita com sua nova companheira.
 Logo a Galinha tinha virado um bichinho de estimação da família, tinha até um nome: Lilica. Lilica ficava ciscando no quintal durante o dia e no final da tarde, quando o Sol começava a sumir, ela pulava no sofá e ficava ali quietinha vendo televisão. E assim ficou por uns dias. Até que uma noite todos notaram que Lilica não entrou; foram ver onde ela estava. Encontraram-na empoleirada em uma árvore com um belo galo. Belinha pensou: “Até a Lilica consegue um par e eu aqui, continuo sozinha”.
_Bem, o galo apareceu aqui, não vou ficar por aí procurando o dono. Quem quiser seu galo que venha buscá-lo - falou Belinha despreocupada, e foi se deitar.
No dia seguinte, novamente acordaram com alguém  tocando a companhia. Belinha, que já estava acordada, foi atender. Ao abrir o portão, foi surpreendida com a presença de um belo homem muito educado e simpático. Ele lhe disse que tinha um filho pequeno, que há alguns meses ganhou um franguinho e o franguinho, ao virar um galo, estava sempre fugindo. E o filho chorava, não se conformava com o sumiço do galo. Ele não sabia mais o que fazer, pois era viúvo e não tinha muito tempo para ficar procurando o galo. Resolveu antes de ir trabalhar, dar uma olhadinha pela vizinhança, e alguém lhe disse que ali tinha uma galinha, então ele veio ver se encontrava o seu galo. Ela lhe disse que o galo realmente apareceu lá.
Então, Belinha permitiu que o homem entrasse para pegar o galo. Foi um corre-corre, deu muito trabalho para os dois, pois o galo se recusava a ir embora, corria como louco por todo o quintal. Depois de pegar o galo e amarrá-lo pelos pés, o homem aceitou tomar o café que Belinha lhe ofereceu.  Conversaram muito, e dali em diante ficaram amigos. Saíam para tomar sorvete, para ir à igreja, ir ao cinema e depois de uns meses descobriram que não podiam mais viver um sem o outro.  



sexta-feira, 10 de junho de 2011

UMA CARTA PARA A VIDA ( CONTO) PARTE l



Lia pegou a carta que sua mãe lhe entregou e não levou muito a sério; conhecia suas irmãs, sabia como elas gostavam de aprontar, principalmente a mais nova - que todos chamavam carinhosamente de Rê - esta sim, era terrível, estava sempre lhe arrumando pretendentes, dando e-mail de amigos, marcando encontros às escuras... mas dessa vez  tudo parecia diferente.  É que a mãe, que só aparecia para visitar as filhas duas vezes por ano, dessa vez trouxe a tal carta, garantindo-lhe que a carta foi entregue em sua casa, por um rapaz desconhecido.
  _Nossa! Mas quando foi que a senhora recebeu esta carta? -perguntou Lia, revirando o envelope nas mãos.
_Ah...! Já faz alguns meses - respondeu a mãe, franzindo a testa, apertando os olhos como se tentasse lembrar-se de alguma coisa. _Bem... Nós estamos em julho..., acho que foi em abril..., mas só agora eu pude vir para cá. Você sabe como é... não posso ficar vindo pra cá todos os meses, você já viu o preço das passagens? Está pela hora da morte e eu também não tenho mais saúde para ficar 7 horas sentada em um ônibus. Logo, vocês é que terão de ir pra lá se quiserem me ver. Já estou me cansando de viajar! 
- Mãe, por acaso não foi uma das meninas que deixou a carta em sua casa quando lhe visitou e pediu para a senhora trazer para mim?- perguntou Lia com um ar de desconfiança.
_De jeito nenhum! Na época que me levaram esta carta não tinha nenhuma de vocês lá, acho que era mesmo mês de abril, nem era férias nem nada. - respondeu a mãe dirigindo-se à cozinha _ Tô doida para tomar um café! _Abra o envelope que você vai ver a data, toda carta que se preza tem data!
“Era só o que me faltava” pensou Lia.
_Pode colocar a água no fogo que eu já estou indo aí para te ajudar.
Lia dirigiu-se à cozinha ainda com o envelope fechado na mão, abriu o armário, pegou o pote com o pó de café e entregou-o a mãe; depois foi até a mesa e sentou-se, deixando por conta da mãe o preparo do café.
_Vamos, minha filha, abra a carta! Não me deixe nessa curiosidade toda.- disse D. Rosalina, enquanto coava o café.
_Curiosidade! A senhora recebeu essa carta em abril, está me entregando somente agora, três meses depois e vem me dizer que está curiosa! _ retrucou Lia._ Eu te ligo toda semana e a senhora não me falou nada de carta. Se tivesse falado, eu teria pedido para colocá-la no correio, não precisava esperar até agora para trazê-la.
 _Vocês acham que eu não tenho nada para fazer, não tenho minhas preocupações? _ perguntou a mãe num tom choroso.
_Tá, mãe!! Não é para ficar assim. Além do mais, não deve ser nada importante.
D. Rosalina, então  abriu o forno, sabia que Lia era igual formiga não ficava sem  algo doce para comer,  e estava certa, tinha um apetitoso   bolo de maçã com canela por cima, pegou a assadeira e levou para a mesa e foi cortando o bolo e colocando os  pedaços em um prato. Encheu as xícaras de café, entregou uma à filha e sentou-se no outro lado da mesa, e pôs-se a mexer o café calmamente. Gostava mesmo era do aroma do café. Antes de beber, sempre ficava, assim mexendo, mexendo, só para sentir aquele cheirinho maravilhoso.
Lia olhava para o nome do remetente, mas não acreditava no que via escrito naquele envelope. Aquele  era o nome de sua primeira paixão..., seu amor da adolescência. Após abrir o envelope, pôs-se a ler silenciosamente a carta, enquanto tomava o seu café. De vez em quando sorria e sacudia a cabeça.
Sua mãe, sentada à sua frente olhava-a com curiosidade. Sabia que nada podia deixar sua filha aflita, ela tinha sempre aquele jeito  tranquilo  de levar a vida. Sempre fora assim, teve sete filhas, e ela era realmente a mais calma, sempre sorridente; mesmo nos piores momentos ela mantinha a serenidade.
_Conta logo sobre o que é! – implorou a mãe _Estou ficando aflita, você sabe que minha saúde é fraca, conta logo!!!
Ela não se sentia a vontade para falar desse assuntos com a mãe, preferia guardar aquelas recordações só para si.
_Fica calma, mãe! É de uma pessoa que eu conheci há muito tempo, na época em que eu ainda morava lá em Santa Fé; nós pegávamos ônibus juntos para ir ao colégio. Depois ele mudou-se para o Paraná e ficamos nos correspondendo por um bom tempo. Eu devia ter uns dezessete anos, depois eu vim morar pra cá, e perdemos o contato. Nossa! Como o tempo passa rápido, deve ter mais de 20 anos que isso aconteceu. _disse Lia com um olhar saudoso, lembrando-se de como esperava aquelas cartas com tanta ansiedade.
_Ah! Então é isso! - disse D. Rosalina meio desapontada – e eu aqui me descabelando. 
Lia olhou para a mãe e riu. Sua mãe tinha o dom de fazê-la rir com seus exageros. Pensou: Descabelando onde? Estava era “comendo grandes pedaços de bolo; que encontrara no forno e tomando café”.
 _O que é que ele quer depois de tanto tempo?- perguntou D. Rosalina, toda interessada.
_Quer voltar a se comunicar comigo, mandou o telefone e o e-mail
dele.- respondeu Lia
_Bom!  Como não é nada importante eu já vou indo visitar as outras meninas, você sabe como é, preciso ir  à casa de todas ainda hoje. Se não, já viu!
Depois eu decido onde vou dormir. _disse D. Rosalina, dirigindo–se à porta e saindo.
As outras filhas moravam todas ali, por perto, e ela fazia questão de visitar todas no primeiro dia em que chegava à cidade, só depois ela resolveria  onde iria dormir.
_Volte para dormir aqui, estarei te esperando - disse Lia, voltando a fitar a carta. Sabia que a mãe não voltaria, ela sempre ficava na casa que tivesse o maior número de netos.
Só agora, começou a pensar na carta com carinho, olhou novamente o nome do remetente; era um rapaz alto e muito magro, que fazia questão de sentar-se sempre ao seu lado no ônibus.
Nunca houve nada entre eles, apenas conversavam e trocavam olhares, vez ou outra  suas mãos se encontravam  acidentalmente, essas coisas de adolescentes tímidos, mas não passou disso, mesmo estando apaixonados um pelo outro.  Então um dia ele disse-lhe que estava de mudança para outra cidade e pediu o endereço da casa dela. Ficaram trocando cartas por mais dois anos. Quase que diariamente ela recebia uma carta dele. Nas cartas ele dizia o quanto gostava dela, o quanto a achava bonita. Mas ficou nisso, logo ela veio morar com as irmãs, para tentar arrumar emprego, e então veio  o casamento. E com ele, a realidade e as responsabilidades da vida de adulto. 
Naquela manhã mesmo, ela se olhara no espelho; já dava para notar algumas ruguinhas em volta dos olhos. Pensou: Será minha sina ficar sozinha?
Depois do divórcio, não tinha nem tempo nem ânimo para procurar outra pessoa. Tinha o trabalho, os estudos e o filho adolescente, tudo isso ocupava quase todo o seu tempo. E também havia aquele sentimento de descrédito nos relacionamentos, aprendera a não por fé no sexo oposto. Essa era a verdade. Contudo, não era uma pessoa amargurada. Longe disso, mesmo nos momentos difíceis do pós-divórcio, ninguém pode dizer que a viu se lamuriando. Era uma mulher forte, independente, podia muito bem se cuidar sozinha.
Claro que a carta a deixara surpresa. Ele dizia que nunca a esquecera, que guardava todas as cartinhas dela.  Comentou até sobre um desenho que ela fazia no rodapé das folhas de carta.  Pensava: Como é que alguém que ela não via há tanto tempo ainda se lembraria dela e ainda se dera ao trabalho de escrever-lhe? Parecia coisa de filme, de novela, sei lá... Que coisa!
Claro que a mãe contou para todas as irmãs sobre a carta, e logo o interesse foi geral, todas queriam saber os detalhes, o que ela faria a partir de então. A mais nova então, cujo objetivo de vida era arrumar-lhe um companheiro, ficou tão animada que foi bater em sua casa, queria ver a carta com os seus próprios olhos.
Rê era sua irmã caçula; era pequena e magra como Lia, tinha uma longa cabeleira ruiva e cacheada que descia até a cintura, a sua aparência delicada enganava, pois era uma pessoa extremamente batalhadora e inteligente, sem contanto perder seu jeito jovial.
_Menina, você está com tudo, hein! Ainda despertando paixões!! Quem diria! – falava e ria alto. _Veja aí o e-mail!  Vamos entrar em contato já!  Animada foi logo sentar-se em frente ao computador.
_Calma, Rê! Amanhã farei isso. Já é tarde. E depois eu quero refletir um pouco sobre essa carta.
A irmã não entendia a tranquilidade da outra, ela gostava de resolver tudo rápido, não deixava nada para depois, era sua natureza ser assim, o oposto de Lia, que não tinha pressa para absolutamente nada. 
Somente no dia seguinte com muita insistência das irmãs, Lia entrou em contato com Júlio - esse era o nome do remetente da carta. E foi o começo de um longo período de troca de e-mails, ele querendo encontrá-la, todo feliz por saber que ela estava sozinha, e ela, sempre dando um jeito de adiar o encontro.
No começo Lia não se empolgou muito, sabia que não era mais aquela menina de 17 anos que ele conheceu e guardara em sua mente. E com certeza era disso que ele se lembrava. Começaram então a trocar fotos; ela ficou surpresa com as fotos dele. Ele também não era mais um garoto magricela, tornara-se um belo homem, muito bonito mesmo. Até bonito demais.   Pensava: “O que faz um homem desse solto por ai”?
_ O cara é bonito! – dizia as irmãs – Veja! Ele se parece com o presidente dos Estados Unidos.
_Sem dúvida ele é bem atraente - dizia Lia, olhando para a foto, _ é verdade, lembra mesmo o Obama.
Porém, nada de marcar o primeiro encontro, ninguém acreditava no sossego de Lia. As irmãs ficavam indignadas e diziam: _Marca um encontro logo! Esperou 20 anos, agora vai esperar mais quanto tempo?
_Deixa estar! –dizia Lia, aparentando total controle da situação_ Ninguém foge ao seu destino. Se tiver de ser, será! Já estou sozinha há tanto anos, que diferença fará mais alguns meses?
A irmã mais nova respondia: _Nunca vi tanta tranquilidade, isso está me cheirando à insegurança, isso sim! Você deve estar com medo de encontrá-lo, dele não gostar de te ver mais velha. Afinal, você já está quase chegando aos quarenta.
_Absolutamente. Eu tenho lhe enviado um monte de fotos, ele sabe que não sou mais uma garota, estou um pouco insegura, mas não com a minha aparência, me sinto bem melhor hoje do que quando era mais jovem. As rugas não me assustam o envelhecer também não, me sinto ótima. A questão é que..., não estou certa se quero me relacionar com alguém novamente. Estou tão bem sozinha. – disse isso olhando serenamente para a irmã. _Faço tudo que quero; acordo e durmo quando bem entendo.  Às vezes saio com meu filho e volto somente no dia seguinte, a gente pega o carro e viaja sem dar satisfação a ninguém. Outras vezes fico parada sem pensar em nada, sem ter ninguém para me controlar, perguntar no que estou pensando, paro e leio um livro inteirinho em um dia, sem ter ninguém me aporrinhando; nos finais de semana chuvosos eu fico na cama até tarde. Meu filho já é rapaz, sabe se virar... Tenho minhas manias, você sabe como é! Dá um medo danado de perder essa liberdade toda. _Lia falava com tanta convicção, que comoveu a irmã.
_Mas... e a solidão? E nas noites frias? Não acredito que você não tenha nenhuma vontade de ter alguém, pelo menos de vez em quando, para conversar, sei lá... _ perguntou a irmã, curiosa.
_Tenho sim, é claro! Sou humana, às vezes no meio da noite tenho uma crise de melancolia, angústia... mas de manhã já passou e volto ao meu normal _respondeu Lia, como sempre, com aquele seu jeito imperturbável.
Rê apenas meneou a cabeça e ficou calada; depois de um tempo, falou: _ Isso de solidão não é comigo, gosto de ter gente por perto, não consigo me ver sozinha. Gosto de barulho, festa e um bom cobertor de orelhas...Mesmo que isso signifique não ter tanta liberdade como você tem. Nos relacionamentos precisamos aprender a ceder, isso às vezes é bastante conflitante para algumas pessoas; eu, porém, tiro de letra. 
_Não se preocupe. Nas minhas férias no final do ano, eu marco esse bendito encontro. - disse Lia, finalmente, para a alegria de todos.
O Final do Ano chegou, as férias também. Lia fez sua mala, pegou seu filho e se mandou como sempre fazia. As irmãs só ficaram sabendo da viagem quando ela já estava em Mato Grosso em uma fazenda de uma amiga, já se programando para, de lá, ir para a praia.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

UMA CARTA PARA A VIDA ( CONTO) parte 2



No começo de fevereiro Lia retornou com o filho, ambos com um bronzeado maravilhoso. Ela estava radiante, com seus cabelos castanhos, encaracolados um pouco acima dos ombros; vestia um vestido curto cor gelo com estampas em azul, coral e caramelo, que deixava à mostra suas costas cheias de pequenas pintinhas.
_Meninas, que pena que vocês não foram! O apartamento era grande, dava para todas irem. Imaginem, bem em frente ao mar..._falou como se estivesse ainda olhando para o mar.
Contou cada detalhe de sua estada na praia. Depois, começou a falar sobre os dias que ficou na fazenda.
Ela sabia o motivo das irmãs não terem ido; umas foram ficar uns dias com a mãe no interior, outras não puderam viajar porque os maridos não estavam em período de férias e a mais nova estava guardando dinheiro para trocar de carro.
Então começou a abrir a mala e entregar as lembrancinhas que trouxe da praia. Na empolgação da entrega das lembrancinhas, uma das irmãs, perguntou: _Você não está se esquecendo de contar mais nada?
_Tá bom! Não fui visitar mamãe, mas liguei para ela toda semana, ela está ótima, irei lá no próximo feriado. 
_Ela está se referendo ao encontro! _disse outra irmã.
_Ah... O encontro?  Pois é, eu ainda não marquei... deve ter um monte de e-mails dele para responder_ Lia falou calmamente. A Rê deve saber melhor que eu, ela vive olhando meus e-mails...
As irmãs se entreolharam e não disseram mais nada. Estava claro que se dependesse de Lia, aquele encontro não aconteceria. A irmã caçula estivera em contato com o Júlio, e ele realmente esperou que Lia marcasse o encontro nas férias.
Era quase meio dia, de um lindo sábado ensolarado. Rê estava voltando de sua caminhada diária com o marido, quando olhou para a janela da casa de Lia, que ainda se encontrava fechada. Nos finais de semana eles também não acordavam muito cedo, mas aquilo já era demais. Despediu-se do marido e correu para a porta de Lia, fazendo uma batucada escandalosa.
_Que é, sua maluca? O que aconteceu?
_Eu vi o Júlio vindo ali no começo da rua e vim correndo te contar antes que ele te achasse dormindo. _disse a Rê, fingindo dificuldade para respirar.

_Tenha calma, Rê _tranquilizou a outra. _Onde ele encontrou o meu endereço? Só se a mãe deu, ou você...
Quando viu que a irmã nem se alterou, Rê deixou-se cair no sofá desanimada, cada vez mais intrigada com a indecisão da irmã;
logo faria um ano que ela recebera a primeira carta e até então tudo ficou entre carta, cartões nas datas comemorativas e e-mails. O rapaz já estava cansado de tentar encontrar-se com ela. Ela porém, continuava arrumando desculpas.
_Eu estava brincando, sua boba, queria apenas te dar um susto. Você parece que não tem sangue nas veias...- falou, desanimada.
_Ahn?_ resmungou Lia enquanto bocejava.
_E lá na fazenda ou na praia, você não ficou com alguém, não deu uns beijos?
Lia caminhava preguiçosamente pela sala, ainda com seu pijama largo de malha florida.
_Conheci um monte de gente, mas não para beijar, só para jogar conversa fora. _Preste atenção, mocinha! _ olhou bem para os olhos da irmã _ eu não estou procurando ninguém. E não gosto dessas novidades, esse negócio de ficar, para depois perguntar o nome. Acho uma falta de respeito pelo corpo, pelos sentimentos, não gosto e pronto!
_Você gosta é de ter essa vida mais ou menos_ respondeu a irmã, _
com medo de se envolver, de amar.
_ É possível! Veja bem! Eu tenho uma semana cansativa, cheia de compromissos, aí eu chego em casa, vou dar atenção ao meu filho, que é uma coisa que adoro fazer. Imagine outra pessoas para eu dar atenção também, não é mais um compromisso?
_Não é compromisso, é lazer, é prazer... – respondeu a irmã.
_Nem sempre, minha cara. Nem sempre. Às vezes vira mais uma obrigação. - disse Lia séria, dirigindo-se ao banheiro _ Vou tomar um banho.  Faça um café bem forte, por favor!





quarta-feira, 8 de junho de 2011

UMA CARTA PARA A VIDA ( CONTO) FINAL




Foi neste exato momento que Rê teve uma grande ideia. “Como não pensei nisso antes”.
Quando Lia saiu do banho, encontrou a irmã toda sorridente sentada tomando café.  Sentou-se ao seu lado e começou a tomar também.   
Nossa Lia!  Seu aniversário já é no próximo mês. _ disse aparentando surpresa _ O que você acha de sairmos só nós as irmãs sem a filharada e sem os maridos?

_Ótima ideia! Faz tempo mesmo que não saímos assim, só nós, acho ótimo- respondeu Lia radiante.
_Vou providenciar para que seja um dia perfeito..., vamos ao salão fazer os cabelos, as unhas..., uma faxina geral. Você já percebeu que as meninas nem ligam muito para fazer os cabelos? Perguntou Rê olhando para os cachos desalinhados da irmã.
_Elas estão mais preocupadas com os filhos, com a casa..._Você agora virou fofoqueira, menina?_ perguntou Lia erguendo as sobrancelhas _ como se não bastasse ficar cuidando de minha vida, tentando me arrumar marido, agora vai ficar cuidando da aparência das irmãs?_ Vai cuidar de sua vida! _ disse Lia rindo e empurrando a irmã até a porta _ Vai fazer o almoço do seu marido.
A irmã foi embora toda entusiasmada, lá do quintal gritou: _Que fazer almoço, nada! Hoje é sábado, nós vamos comer fora.
O aniversário de Lia ia cair em um Domingo, decidiram por um jantar no Sábado, somente as irmãs, elas estavam empolgadas e só falavam no dia do jantar, marcaram cabeleireiro, escolheram as roupas, trocaram roupas e calçados entre si.
Chegou o esperado dia do jantar. O que Lia estranhou, foi que até mesmo os maridos mais ciumentos, que não desgrudavam das esposas de jeito nenhum, se mantiveram calados, sem reclamar, aceitaram bem a ideia do jantar.
Tudo foi combinado com as outras irmãs, estavam todas empolgadas com a saída, foram ao melhor salão de beleza da cidade, fizeram as mãos, os cabelos. A aniversariante vendo tanta empolgação, também tratou de ficar linda, escovou os cabelos, tentou achar em seu guarda roupas um que lhe agradasse, porém não encontrou nada muito bonito, não se preocupou, pois sabia onde poderia encontrar roupas maravilhosas; sua irmã não perdia uma promoção, tinha sempre roupas variadas para qualquer ocasião. Foi à casa da irmã mais nova e viu em cima da cama um vestido preto tomara que caia, com saia plissada e um detalhe em renda branca, altura do busto. Ficou encantada com o vestido. A irmã realmente tinha muito bom gosto.
_Que vestido lindo, Rê!  Veja se acha um que eu possa usar hoje.  _Pode usar esse se quiser _ disse a irmã se referindo ao vestido que estava sobre a cama- Ele fica muito curto em mim, em você talvez não fique tão curto.  Além do mais eu tenho outros, se você quiser ver..._disse isso se dirigindo ao guarda roupas, onde foi tirando os vestidos um por um e colocando-os lado a lado em cima da cama. _Veja este!  De rendinha preta sobre um forro azul. E este, bem colorido de frente única listrado. Olha este branquinho com detalhes em babado abaixo da cintura, tem este estampado também. Qual você prefere?
Todos são maravilhosos, é até difícil de escolher _ Mas prefiro este pretinho. Ele é minha cara! Vou ver como fica - disse isso indo em direção do banheiro para se trocar.
Quando retornou, a irmã já estava com um vestido estampado, e com um par de sandálias de salto alto na mão. _Ele ficará muito bem com estas sandálias. Experimente!
 _Agora sente-se aqui, vamos dar um trato neste seu rostinho. Afinal você é a aniversariante! Lia sentou-se e deixou-se maquiar pelas mãos delicadas da irmã. 
Lia calçou as sandálias e olhou-se no espelho, estava linda, não via a hora de ver as outras irmãs, pois todas tinham ido se arrumar e o ponto de encontro era exatamente em sua casa às 20:00 hs.
Logo que sua irmã ficou pronta as duas saíram em direção da casa de Lia.
Quando abriu a porta de sua casa, Lia foi recebida por um coro de vozes cantando “Parabéns para você”. A sala que não era muito grande estava repleta de gente; suas irmãs, seus cunhados, seus sobrinhos e seu filho com um lindo bolo na mão cheio de velinhas.
_Não acredito que vocês fizeram isto! – disse Lia toda sorridente maravilhada com a surpresa. - Eu acreditei mesmo que íamos sair. Como vocês são danadas! 
Logo alguém falou: _Essa não é a única surpresa, prepare o seu coração que tem mais!
Enquanto Lia soprava as velinhas, ouviu-se um ruído lá fora.  De repente, a sala estava num silêncio total, ouviram-se passos na frente da casa. Ela olhou em volta para ver quem estava faltando. Todos os conhecidos estavam ali. Pensou: “Deve ser algum entregador com os salgados”.  Ao mesmo tempo ela notara que a sala continuava em total silêncio, então ouviu-se um toque na porta.  Uma criança correu para abrir a porta. Alguém falou: _Deixa que a tia Lia abre!
Lia toda sorridente, sem entender absolutamente nada, foi até a porta e abriu-a. Seus olhos não acreditavam no que via; seu sorriso, seu cérebro, tudo ficou paralisado, apenas seu coração parecia estar descontrolado.
 _ Você aqui? _ falou com a voz estrangulada. Lá estava ele, lindo! Simplesmente lindo; parado diante dela. Ela não teve nenhuma reação, ficou ali, parada fitando-o, sem entender nada.  _Entra, por favor_ disse ela, dando espaço para ele passar.
Ele entrou em meio a uma intensa algazarra, uns assoviavam, outros riam e as crianças gritavam excitadas, todos queriam cumprimenta-lo, dar as boas vindas...
_Então, esta é a minha surpresa _disse Lia emocionada. _Amei! Mas confesso que estou tremendo - mostrou as pequenas mãos trêmulas.
Júlio ia se afastando de Lia enquanto cumprimentava as pessoas da sala, mas seus olhos insistiam em voltar para ela.
 As pessoas falavam todas ao mesmo tempo, ele tentava se concentrar, ouvir os nomes durante as apresentações, porém, seus pensamentos estavam em Lia, seus olhos fugiam na direção dela. Era mais forte que ele.
_Vocês têm muito que conversar._ disse sua irmã Rê, vão jantar, nós ficaremos aqui comendo seu bolo.
Ele foi ao encontro de Lia, olhando-a com seus olhos brilhantes, e caminharam até o carro um ao lado do outro em total silêncio.
Entraram no carro e ficaram em silêncio, ele dirigia e ela o olhava ainda sem acreditar em seus olhos. Ela lembrava-se de um rapaz magrinho e inseguro e agora se via diante de um belo homem, alto, de ombros largos, olhos brilhantes e sorriso largo.
Ele usava uma camisa cinza de tecido fino e uma calça jeans, mantinha os cabelos grisalhos com um corte curto e moderno.
Ele olhou para ela com ternura e disse _ Você é do jeito que eu imaginava. Linda! _ Diga-me a verdade Lia, por que me fez esperar tanto tempo?
_Eu queria ter certeza dos seus sentimentos.
_Fala sério?_ ele riu olhando-a nos olhos._ Eu nunca te esqueci, foram 20 anos e alguns meses de espera. _ Eu te procurava nas ruas, quando via uma mulher com os cabelos castanhos encaracolados, meu coração disparava achando que era você..._
E por falar nisso, o que você fez aos seus cabelos? Cadê meus cachinhos?
_Fiz uma escova hoje, por insistência das meninas, mas não se preocupe, é só achar um chuveiro que eles voltam. _disse Lia rindo.
Foram jantar em um restaurante aconchegante que Lia conhecia no centro da cidade. Entraram de mãos dadas como casal de namorados. Sentaram-se e ficaram em silêncio, os olhos dele fixos nos dela. Ficaram assim de mãos dadas sobre a mesa. Pensaram em muita coisa para dizer um ao outro no primeiro encontro. Agora porém, que estavam juntos lado a lado, ficaram calados, as palavras não tinham nenhum significado.
Somente depois das primeiras taças de vinho é que começaram a conversar..., rir..., sussurrar e assim ficaram por mais de 3 horas. Ele a olhava com seus olhos negros brilhantes, cheios de amor e desejos.
Precisavam ir embora. Ao saírem do restaurante foram surpreendidos por uma chuva fina. Nenhum dos dois estava em condições de dirigir por causa do vinho. Júlio foi ao carro apenas para pegar um agasalho para Lia.  Ao colocar o casaco em suas costas, ele passou os braços pela sua cintura dela e a puxou para si.
_Como eu sonhei com esse momento! – sussurrou no ouvido dela. -_Você nem imagina, Lia... Como desejei ficar assim..., ter você em meus braços.  
Lia sentiu uma moleza nas pernas, seu corpo tremia, tinha dificuldades para ficar em pé. Encostou-se mais naquele corpo forte, sentiu seu calor, seu cheiro, sentiu reacender a paixão que um dia sentira por ele.
_Como fui esperar tanto tempo? Precisamos recuperar todo esse tempo perdido. _disse Lia ofegante. 
Carinhosamente ele tocou nos cabelos dela, beijo-lhe o pescoço, levantou seu queixo, tocou em seus lábios com sua boca molhada e cheia de paixão.  Era um beijo desejado, esperado e ardente.  
Estavam intensamente apaixonados como na adolescência.
Dali por diante não se separaram mais, acordaram no dia seguinte com raios de Sol entrando pela janela iluminando todo o quarto e abençoando aquela  bela união.